A aventura de ler e formar
leitores
Lucy
Mary R. Kuntz
Na
antiguidade a literatura e a escrita era privilégios sagrados de pequenas
elites. Passados milhares de anos após o aparecimento da escrita, apenas uma
pequena fração da população mundial tinha acesso a ela.
Sendo
o homem um ser social, é de inegável relevância a influência do texto literário
sobre seu desenvolvimento. A literatura trata dos conflitos e sentimentos que
fazem parte do crescimento humano e que são elementos chave para sua
compreensão do mundo, tanto quanto para sua ação transformadora e libertadora.
O
acesso à leitura e à escrita deveria ser um bem almejado e valorizado por cada
cidadão, entretanto não é o que podemos verificar nos dias atuais,
principalmente diante da influência do avanço tecnológico, que muitas vezes
rouba a cena da leitura como fonte de aprendizado, diversão e até mesmo de
interação familiar. E já que ninguém nasce leitor por natureza, esse não é um
atributo biológico ou hereditário, faz-se necessária a intervenção educacional,
para conscientizar a respeito da importante função social da leitura.
Para
formação do leitor crítico e criterioso, que se vale dos conhecimentos
adquiridos através da leitura e de sua leitura de mundo para interagir com a
sociedade e a natureza, indo além dos limites da escola e transformando todo um
contexto, é preciso que seja propiciado às nossas crianças o permanente contato
com material escrito, mas que este seja de qualidade e variado. A leitura tem o
poder de qualificar as relações sociais por subsidiar a formação do indivíduo
crítico que interrogue e dialogue com o mundo à sua volta.
“As
respostas nos permitem pisar sobre uma terra firme, mas somente as perguntas
nos permitem entrar pelo mar desconhecido”. Rubem
Alves
De
acordo Vygotsky, a situação imaginária, como a brincadeira de faz de conta, é
muito importante para o desenvolvimento da criança. Segundo ele “a situação é definida pelo significado
estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente
presentes”.
Atualmente
coma invasão dos meios de comunicação, especialmente o televisivo e da
informatização, a situação imaginária tem sido um tanto esquecida, desde muito
cedo na vida de nossas crianças. O bombardeamento de informações ao qual elas
estão sujeitas, faz delas pseudo adultos, com desejos e comportamentos que não
deixam muito espaço para a imaginação, são os chamados “adultos precoces”.
Assim
é fácil perceber a necessidade de trabalhar o lado lúdico, através da
literatura, aliada à arte em sua plenitude e à brincadeira, como elemento de
incentivo à formação de leitores.
Como
relata o célebre autor Graciliano Ramos, ao se usar textos com o simples
objetivo do aprendizado “mata-se a golpes
de gramática, o futuro leitor”. Ele diz ter tomado raiva e desconfiança
pelos livros, justamente por vê-los como “obrigação, chatice, caceteação”.
De
acordo com Paulo Freire o processo de leitura acontece mesmo antes da criança
ir para a escola, pois em seu cotidiano ela já realiza a leitura do mundo que a
cerca e a leitura como elemento de alfabetização deve além de proporcionar
conhecimento, permitir a reflexão e a ação do indivíduo sobre a sua realidade.
É
preciso então que o material literário oferecido à criança, e por que não ao
adolescente e até mesmo ao jovem, seja diversificado, a fim de despertar o
interesse pela leitura, através de assuntos que façam parte do seu universo, ou
suscitem sua curiosidade, para inseri-los no fantástico mundo da descoberta da
leitura.
A
grande questão é qual a maneira mais eficiente de despertar esse interesse a
ponto de que a leitura torne-se um hábito cotidiano e natural. Que ler ocupe o mesmo espaço, ou até maior
que aquele destinado aos games, e à televisão.
Desde
os primórdios da humanidade o homem percebeu que cultivando seus talentos
conseguia angaria o respeito e admiração de seus semelhantes. Por isso entre
tantas habilidades desenvolvidas pelo homem, está a arte de contar histórias,
mas não podemos ignorar que esta arte implica no hábito de ler histórias.
Há
muito que o ser humano descobriu o poder mágico e misterioso da leitura e da
palavra, que tanto pode construir como destruir, pode proteger ou ameaçar, que
tem o poder de formar e transformar conceitos e opiniões.
No
cenário mundial somente a partir do século XVIII é que a criança passou a ser
vista como um ser diferente do adulto, com necessidades e características
próprias, precisando de uma educação que a preparasse para ávida adulta. Passou
então a desempenhar um papel na sociedade motivando a criação de objetos (brinquedos)
e livros próprios para ela.
No
Brasil a literatura infantil começou a toma vulto a partir do século XIX, e as
obras destinadas às crianças ainda eram puramente didáticas trazendo em seu bojo
o caráter ad imposição e da rigidez inerente ao conceito de aprendizado. Mas
também para a literatura o progresso e o avanço chegaram, e é preciso que todos
se apropriem deles.
O
ser humano é naturalmente dotado de criatividade, mas ela às vezes, precisa ser
“liberta” para que possa ser manifestada.
A literatura tem esse poder, pois nos permite sonhar, ousar andar por
caminhos ainda por serem conhecidos, e que das páginas de um livro saltam para
a realidade através daquele que o lê independente da vontade do autor. O livro
só ganha vida, quando o leitor dá vida às idéias do autor.
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