domingo, 20 de novembro de 2011

Formando leitores


A aventura de ler e formar leitores
Lucy Mary R. Kuntz

Na antiguidade a literatura e a escrita era privilégios sagrados de pequenas elites. Passados milhares de anos após o aparecimento da escrita, apenas uma pequena fração da população mundial tinha acesso a ela.
Sendo o homem um ser social, é de inegável relevância a influência do texto literário sobre seu desenvolvimento. A literatura trata dos conflitos e sentimentos que fazem parte do crescimento humano e que são elementos chave para sua compreensão do mundo, tanto quanto para sua ação transformadora e libertadora.
O acesso à leitura e à escrita deveria ser um bem almejado e valorizado por cada cidadão, entretanto não é o que podemos verificar nos dias atuais, principalmente diante da influência do avanço tecnológico, que muitas vezes rouba a cena da leitura como fonte de aprendizado, diversão e até mesmo de interação familiar. E já que ninguém nasce leitor por natureza, esse não é um atributo biológico ou hereditário, faz-se necessária a intervenção educacional, para conscientizar a respeito da importante função social da leitura.
Para formação do leitor crítico e criterioso, que se vale dos conhecimentos adquiridos através da leitura e de sua leitura de mundo para interagir com a sociedade e a natureza, indo além dos limites da escola e transformando todo um contexto, é preciso que seja propiciado às nossas crianças o permanente contato com material escrito, mas que este seja de qualidade e variado. A leitura tem o poder de qualificar as relações sociais por subsidiar a formação do indivíduo crítico que interrogue e dialogue com o mundo à sua volta.
“As respostas nos permitem pisar sobre uma terra firme, mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido”.                                                                        Rubem Alves

De acordo Vygotsky, a situação imaginária, como a brincadeira de faz de conta, é muito importante para o desenvolvimento da criança. Segundo ele “a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes”.
Atualmente coma invasão dos meios de comunicação, especialmente o televisivo e da informatização, a situação imaginária tem sido um tanto esquecida, desde muito cedo na vida de nossas crianças. O bombardeamento de informações ao qual elas estão sujeitas, faz delas pseudo adultos, com desejos e comportamentos que não deixam muito espaço para a imaginação, são os chamados “adultos precoces”.
Assim é fácil perceber a necessidade de trabalhar o lado lúdico, através da literatura, aliada à arte em sua plenitude e à brincadeira, como elemento de incentivo à formação de leitores.
Como relata o célebre autor Graciliano Ramos, ao se usar textos com o simples objetivo do aprendizado “mata-se a golpes de gramática, o futuro leitor”. Ele diz ter tomado raiva e desconfiança pelos livros, justamente por vê-los como “obrigação, chatice, caceteação”.
De acordo com Paulo Freire o processo de leitura acontece mesmo antes da criança ir para a escola, pois em seu cotidiano ela já realiza a leitura do mundo que a cerca e a leitura como elemento de alfabetização deve além de proporcionar conhecimento, permitir a reflexão e a ação do indivíduo sobre a sua realidade.
É preciso então que o material literário oferecido à criança, e por que não ao adolescente e até mesmo ao jovem, seja diversificado, a fim de despertar o interesse pela leitura, através de assuntos que façam parte do seu universo, ou suscitem sua curiosidade, para inseri-los no fantástico mundo da descoberta da leitura.
A grande questão é qual a maneira mais eficiente de despertar esse interesse a ponto de que a leitura torne-se um hábito cotidiano e natural.  Que ler ocupe o mesmo espaço, ou até maior que aquele destinado aos games, e à televisão.
Desde os primórdios da humanidade o homem percebeu que cultivando seus talentos conseguia angaria o respeito e admiração de seus semelhantes. Por isso entre tantas habilidades desenvolvidas pelo homem, está a arte de contar histórias, mas não podemos ignorar que esta arte implica no hábito de ler histórias.
Há muito que o ser humano descobriu o poder mágico e misterioso da leitura e da palavra, que tanto pode construir como destruir, pode proteger ou ameaçar, que tem o poder de formar e transformar conceitos e opiniões.
No cenário mundial somente a partir do século XVIII é que a criança passou a ser vista como um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, precisando de uma educação que a preparasse para ávida adulta. Passou então a desempenhar um papel na sociedade motivando a criação de objetos (brinquedos) e livros próprios para ela.
No Brasil a literatura infantil começou a toma vulto a partir do século XIX, e as obras destinadas às crianças ainda eram puramente didáticas trazendo em seu bojo o caráter ad imposição e da rigidez inerente ao conceito de aprendizado. Mas também para a literatura o progresso e o avanço chegaram, e é preciso que todos se apropriem deles.
O ser humano é naturalmente dotado de criatividade, mas ela às vezes, precisa ser “liberta” para que possa ser manifestada.  A literatura tem esse poder, pois nos permite sonhar, ousar andar por caminhos ainda por serem conhecidos, e que das páginas de um livro saltam para a realidade através daquele que o lê independente da vontade do autor. O livro só ganha vida, quando o leitor dá vida às idéias do autor.

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